Acordou mais cedo que o usual, se vestiu com uma roupa não
usual para trabalhar e foi até uma boa padaria tomar um café. Café preto mesmo.
Expresso, forte, de máquina boa. Queria pedir ‘um café pra nós dois’, mas não
tinha dois. Era uma, apenas ela. Pediu essência de baunilha, não tinha. Essência
de avelã como segunda opção, também não tinha. Trufa? Não. Só tinha café. E
forte. Grão do sul do estado. Topou uma xicarazinha. O café chegou cheiroso,
vigoroso, mas estava amargo demais e não era falta de açúcar, talvez os grãos
tivessem passado do ponto e tivessem queimado. Ia reclamar, mas um cara sentado
próximo, que tomara o mesmo café, elogiou em bom tom e com propriedade: “o
melhor café que já bebi em toda minha vida”.
Para ela um exagero. Já havia provado muitos cafés de muitas
cafeterias e o café daquela padaria não era o melhor do mundo nem a pau. Sorriu
sozinha e decidiu não comentar nada. Na fila do caixa, a moça perguntou “aprovou
o café?”. A pessoa de trás da fila achou que era com ela e respondeu
apressadamente: “muito bom, uma delícia, super suave”. Ela não acreditou, mas
desconfiou que, de repente, o problema era ela. Vai ver sua boca estava amarga
demais. Ficou triste por alguns segundos e decidiu: a partir de agora, só
chocolate. Quero doçura e não mais intensidade. Vou deixar o café para depois.
Horas
depois, percebeu uma machinha escura na blusa. Cheirou e as notas intensas e
puras do café lhe encheram os pulmões. Já estava com saudades, uma saudade
doída. Freud explicaria.
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