28.6.07

Vontade*


Andar descalça, correr pela praia desenfreada rumo ao mar, pular onda, tomar caldo, rolar na areia, engasgar e cair na risada, tomar caipirinha gelada, água de coco, gargalhar da piada dos outros e do escorregão que não machucou, tomar vinho quente, dançar quadrilha, acender lareira, puxar o cobertor até esconder a orelha, ficar na penumbra com alguém relevante, fofocar sem maldade, comer queijo coalho com orégano no espeto, comer biscoito de polvilho carioca (“olha o bisssscoito Glôbu!”), comer mexerica sem pelinha, comer morango com chantilly, comer brigadeiro de panela na colherada, comer bolo de aniversário e comer bolo de fubá com muito café. Tomar café em altas doses, tomar coca gelada com sorvete de chocolate, tomar champagne vagabundo na garrafa pra comemorar o Ano Novo, tomar cotovelada dos amigos num carro apertado, tomar ar fresco na janela, na rua, sob a lua, sob as estrelas, sob o céu. Subir numa ponte, num prédio, numa montanha, numa roda gigante, subir e subir e escalar. Abraçar a mãe, o pai, a vó, o vô, a irmã, esmagar o cachorrinho contra o peito, sentir o coração das pessoas no seu. Beijar na boca, na bochecha, na testa, morder a bunda, morder o braço, morder as palavras. Apertar latinhas, apertar plástico bolha, apertar algodão, apernar Lolo (Milkbar) para comer depois. Estar magra, sentir-se linda, conseguir manter os cabelos iguais aos da Gisele Bündchen, estar com os olhos brilhantes, com o rosto sempre agradável, com a pele boa, com as covinhas emoldurando os lábios. Ter dinheiro para pagar as contas, para fazer outras, para viajar, para gastar com coisinhas e coisonas, com presentes. Pegar um avião e ver tudo pequetitico, saltar de paraglider, tremer de medo da agulha desenhando a tattoo. Dirigir em alta velocidade com vento, sentir a brisa, fechar os olhos, dormir tranqüila, sonhar coisas boas, realizar coisas ótimas, comemorar sempre, dar valor a tudo, estar feliz pra sempre, mesmo nos dias tristes.


* Vontade é um tema roubado, mas sem prejudicar ninguém. Obrigada, Daniella!

(foto de divulgação do monólogo O Barril, da atriz Ângela Dip)

25.6.07

Contagem regressiva



Ah, ah, ah!
A Ju vai casah!
Inha, inha, inha, e eu vou ser madrinha!

Ultimo dia de junho, pra fechar meio ano.

Faz de conta que é promoção

Era mais fácil achar que ela era como todas as outras porque, sendo igual a todas, ele não precisaria amolecer o coração. Era mais fácil achar que todas as verdades e declarações de amor que ela fazia eram falsas, porque assim ele não precisaria abrir o tal coração. Era mais fácil achar que ela era dissimulada, porque assim ele teria um argumento sólido para não acreditar nela e seu coração manter o ritmo usual. Era mais fácil ver-se inteiro e não acreditar que ela se dividia e se derretia para compartilhar a sua metade.

Era acrobático, mas desenvolveu uma técnica de fechar os olhos durante o beijo de maneira que ele não chegasse até a alma, mas se resumisse ali, na boca. Esta, por sua vez, não ousava desafiar a voz do coração, que confortavelmente mantinha-se a uma temperatura de 10 graus, a base de um autoprograma de preservação e lavagem cerebral. Amarrado em uma sala escura, assistia a imagens repetidas e cheias de luzes e sons estranhos, que gravavam nele, com letras garrafais, a frase “ELAS ESTÃO TODAS EM PROMOÇÃO”. Às vezes ele esquentava um pouco quando estava com ela, mas numa virada de corpo, num sorriso, num descortinar dos cabelos dos olhos, ele percebia a vulnerabilidade e recorria à frase gritando lá de dentro. Que alívio. Logo o coração voltava ao ritmo e à temperatura de 10 graus. A frase programada passava a ser verdade e ele dormia tranqüilo e quentinho por fora.

Parcialidade 2

saber é pouco
como é que a água do mar
entra dentro do coco?

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esta vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem



Paulo Leminski

Parcialidade

Enquanto o dia está exageradamente cinza e as montanhas lá no horizonte parecem desenhos em aquarela monocromática sem graça, eu lembrei daquela brincadeira que se pode falar de tudo menos “é”, “não” e “porque”.

Pensei um pouco o motivo da minha mente trazer essa recordação. Um raciocínio puxa outro e lembrei que um amigo, filho de pintor, me garantiu uma vez que as montanhas, quando vistas bem de longe, devem ser coloridas em tons bem suaves de azul e ao eu perguntar o porquê não obtive resposta, apenas “porque é assim”. E essa não-resposta era a resposta. Aí, tudo fez sentido...

De forma objetiva e concreta eu sei que as montanhas não são cinzas e muito menos azuis. Aí cheguei à conclusão que, muitas vezes, a gente quer saber mais sobre determinada coisa/assunto ou acha que existe algo encoberto sobre isso ou aquilo e na tentativa de descobrir segredos ou revelar mistérios, só conseguimos concluir que aquilo é e pronto. Muito frustrante, mas nem sempre há respostas para todas as perguntas e é um perigo querer inventar. É, não e porque fazem parte do jogo.

21.6.07

Algumas coisas óbvias para a esmagadora maioria das pessoas podem ser comentadas sem problema




Campo familiar- Mãe é mãe e elas são sagradas. Não tire sarro da dos ouros para não tirarem da sua;
- Seu cachorro não é o mais lindo do mundo e nem o mais esperto, como você pode pensar (mesmo sem admitir);
- Ter avós é ótimo, mas eles não são modernos, mesmo usando jeans, tênis e óculos escuros. Avós apenas fingem que acham aquela música que você colocou no carro legal;
- Pais separados não são sinônimo de dois presentes em datas comemorativas.

Campo comportamento social
- Não conte piadas se não tiver tino para isso. É péssimo terminar e ninguém rir, pior perceber que aquelas poucas e baixas risadinhas foram só para lhe agradar;
- Quando estiver dirigindo respeite os pedestres e ore ao invés de maldizer os folgados que adoram pisar na faixa de sacanagem. São recalcados que precisam exercer o poder que têm naquele momento;
- Não banalize a frase “eu te amo” e desconfie se alguém lhe disser isso a todo instante;
- Se você convive com pessoas que não correspondem ao seu ritmo não queira mudá-las. Respira fundo, conta até três e mantenha suas atividades da mesma forma, sem mais preocupações. Se tentar mudar terá toda tensão lhe travando os músculos dos ombros e isso é muito dolorido. Uns remam no barco, outros dão partida no motor. No fim, todo mundo chega no mesmo lugar (ou não, então...);

Campo doméstico
- Lave primeiro louça em vidro, depois porcelana, depois cerâmica, depois inox e só depois, ferro. Deixe os utensílios de plástico pro final, mas enxágüe a buchinha antes;
- Nunca opte por um piso cinza e com superfície em diferentes relevos: tem cara de sujo e acumula sujeira, ou seja, é sujo;
- Passe desinfetante no chão sempre dissolvido na água. Nunca jogue o conteúdo da embalagem direto no piso;
- Não use muito óleo na alimentação, principalmente para fazer fritura, pois faz mal à saúde. Além disso, um descuido pode render em explosão e conseqüente fogo (incêndio);

Campo metalingüístico
- Não escreva muito se quiser que mais de cinco pessoas leiam;
- Se você comprar algo com etiquetinha de preço tire-a logo. O contrário pode lhe encher o saco ou pior: nunca mais sair;
- Quando estiver sem criatividade, escolha um tema e escreva em tópicos. Não fica bom, mas engana (para trabalhos escolares é necessário um pouco de retórica);
- Nunca use “esmagadora maioria” ou nada que funcione como superlativo para a palavra. Maioria é maioria e ponto.

19.6.07

Somos os culpados por nos fazerem de bobos



Foto do SXC Public Photos

Divina e graciosa



Lindíssima, estátua majestosa. Até Vênus, astro tão brilhante de qualquer céu capaz de ser visto à luz do dia, fica pequeno e bobo do seu lado no negrume mudo e contemplador. Se esconde por trás de você, faz movimentos circulares menos elípticos que os outros, tenta diferenciar-se para ganhar lugar, para lhe chamar a atenção. Se as mulheres são mesmo de Vênus era lá que eu gostaria de estar, para idolatrá-la mais de perto e sob tua sombra admirar com resignada pequenez todo o universo.
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No céu visto de Amã, capital da Jordânia, o planeta Vênus (o ponto brilhante à direita) é eclipsado pela Lua crescente. (Foto da Reuters, no álbum de fotos do Uol de 18-06-07)

18.6.07

Caixa de Pandora

O valor está sempre nas entrelinhas, no que não é dito, mas mostrado; no que não é mostrado, mas pensado; no que não é revelado, mas fica em segredo e dá pistas do que é. Não que isso seja superconfortável e seguro, mas é real e é isso a única coisa que importa na corda bamba de incertezas. Se cada novo contato se expõe um pouco mais, seja na iniciativa de ir, seja na de fazer ficar, então fechar os olhos e dormir com tranqüilidade é possível. Se o que tem valor deve ficar em um cofre, pode usar as sete chaves, por favor. Prefiro não abrir e aguardar, mas não resisto em espreitar pela fechadura.

14.6.07

Comedor de formiguinhas



Não resisti! Sempre tive simpatia por tamanduás e, vendo esse bebê, quis para mim. Pelo menos fica guardado no mezanino.

No G1 - Um bebê tamanduá-mirim de cerca de um mês de vida chegou a um criatório de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, depois de ser resgatado ao lado da mãe, que estava morta, em Santa Rosa, nesta terça-feira (12). O animal ainda não tem sexo definido e já toma leite na tigela. (Foto: Charles Guerra/Agência RBS)

13.6.07

Passeando por dimensões paralelas



Às vezes não sei para onde ir e acabo indo para minha infância. É comum isso, Freud explica numa boa enquanto joga truco, bochecha com Listerine e pula amarelinha.

Hoje eu fui para lá não por estar muito triste ou muito feliz, mas porque meu armário de mantimentos dá eco e eu queria algo diferente de Toddy com leite, barrinha de cereal, gelatina ou torradinha com manteiga.

Foi aí que, abrindo o bendito, avistei escondidinha, lá no fundo, uma lata de milho. Pronto! Abri, lavei os amarelinhos, coloquei em um copo de requeijão com estampa de bichinho e carquei sal com vinagre: espetacular! Voltei a ter dez anos... ou até menos. Sabe que até minha pele está mais bonita? Só faltou estar assistindo X-Tudo, Smurfs, Liga da Justiça, Scooby-Doo, Os Caça-Fantasmas ou Os Ursinhos Gummi.

12.6.07

Dia dos Namorados 2

O dia havia sido corrido e ela foi apressada ao supermercado comprar as coisas para o jantar. Na fila rápida, para até 10 volumes, um casal na frente segurava um vinho e uma lasagna congelada. Ela saiu correndinho da fila e foi buscar a bebida. “Como pude esquecer!”

Escolheu um tinto seco, para combinar com a massa que ia preparar, a única coisa que sabia fazer decentemente. E, já que era a única, resolveu que seria no capricho.

Chegou em casa e foi descascar os tomates, para bater e fazer um molho natural, puro, encorpado, de tomates MESMO e não de extrato. Ela queria oferecer essência, nada artificial. Depois disso, abriu a geladeira e pegou o rolo de massa fresca que tinha comprado previamente em uma casa italiana prestigiadíssima da cidade. Dividiu e reservou. Abriu palmito, picou. Pegou os champignons e os cortou em tiras finíssimas, fatias milimetricamente iguais. Bacon, que ele gosta, azeitonas pretas, idem. Mais umas coisinhas... jogou tudo na panela com alho pré frito em azeite. Era o recheio perfeito. Deixou o vinho no jeito, ao lado da taça nova e dos pães italianos na cesta coberta por uma toalha elegante, e foi tomar banho.

Usou sabonete esfoliante, creme para o corpo especial, perfume que ganhou dele. Não ia sair de casa, então achou ridículo colocar um vestido super, uma roupa “de sair”. Optou por uma combinação que só as mulheres sexys e charmosas conseguem usar e ter sucesso: calça jeans e regata branca, nada de sapato nos pés. Ela estava maravilhosa e se sentia deslumbrante.

Olhou-se no espelho, ensaiou o sorriso oblíquo, com olhar e pontas dos cabelos emoldurando a cena. Os cílios penteados com rímel deram ainda mais graça àquele ensaio. Ela o repetiu, mas com o pescoço pendendo para o outro lado, apertou os lábios de leve e em câmera lenta. Arrumou a franja com os dedos juntos e a palma da mão voltada para fora, como que oferecendo aquela imagem. Pensou no seu corpo envolvido no dele e fechou os olhos. A expressão do rosto combinou com o jeans e a regata branca, perfeitos nela.

Foi para a sala de jantar. Serviu-se e comeu sozinha olhando para a decoração da sala. O aroma da comida percorreu todo o apartamento procurando por ele, mas não havia mais ninguém por lá. O perfume dela impregnou na cadeira e na toalha da mesa. Abriu o vinho e estreou a taça. Os cheiros eram maravilhosos, mas nada tinha sabor. Levantou-se, recostou na janela e suspirou. Ela trocaria tudo que estava à mesa por um pão bem quentinho, como que saído do forno. Ela preferia terminar a noite degustando um bom pãozinho francês, mas foi lavar a louça e deitar. Já era tarde.

Dia dos Namorados 1

Um homem que admiro e respeito, por diversos fatores, me disse hoje:

“Um homem só se torna homem de verdade, só se realiza e se coloca verdadeiramente como homem quando conquista uma mulher e a tem para ele cuidar. Podem me chamar de machista, mas não é. É da essência do homem. Todo homem, para sentir-se homem por completo, precisa de uma mulher para ser dele. E é ela quem vai ajudá-lo a ser cada vez melhor. Podem falar que viver sozinho é bom, e pode ser. Mas para ser pleno, um homem necessita de uma mulher. E claro, ela precisa dele para também se realizar"

Eu achei forte, meio machista, meio romântico, mas bastante objetivo. Gostei.

11.6.07

"não brinca com fogo, menina!"



Na hora do desespero é necessário alguém que te dê paz porque, na hora do desespero, você esquece, por mais óbvio que seja, mesmo que você tenha aprendido isso ainda bem pequena, que óleo em chamas não se apaga com água e que as janelas existem para serem abertas e fazer ar novo entrar. É aí que você descobre que o desespero emburrece.

*Só pensei em tirar fotos depois de ter limpado mais da metade do estrago... taí. Teto escuro, panela imunda grudenta, tapete queimado, solução de óleo e água com o pedaço de frango assassino - que virou carvão. O chão e o fogão (ainda) estão parecendo o mar do porto de Santos.(atualizado às 20h35)

10.6.07

Apelos urgentes da humanidade



Mais sobre a campanha, aqui.

(Música: All the Same, da banda Sick Puppies)

8.6.07

a.p. desta sexta:

Em fase de posicionamento.
Departamento blog: só postar literatura inofensiva.

Balança, joga, desfila, requebra, levanta a saia de leve, acaricia o ar com os cabelos pra lá e pra cá. Sorri indolente com a boca meio torta e os olhos controversos. Derruba os queixos sem querer.

6.6.07

cumplicidade



- oi!!
- oi, tudo bem?
- Mais ou menos, a ornitorrinco me incomoda
- Pára, isso dá forças para ela
- Sim, eu sei, preciso parar de programar, mas não posso esquecer que minha intuição funcionou
- Ah, sim... nossa, falando nisso acabei de perceber que estou programando coisas terríveis com alguém que minha intuição detectou como dangerous
- Xiii, pára ! Até parece que é necessário. Às vezes acho que você não enxerga que você é o que você é
- Claro que enxergo. Mas o que você quis dizer?
- Que você é acima da média, mas acha que não
- Ah, eu me sentir acima da média não é meio egocêntrico, pedante?
- Não, claro que não. Não é todo mundo que une beleza, esperteza, inteligência, simpatia e charme. E você não é pedante. Na verdade seu jeito descontraído e livre para fazer e falar bobagens não-burras é que costura tudo isso direitinho...
- É, não sou pedante e não ligo em fazer coisas bobinhas. Sempre disseram que sou charmosa, nisso acredito. Na verdade me acho acima da média sim, mas não me sinto confortável com isso, entende?
- Entendo. Você prefere fingir ser modesta, rssss
- Não, não gosto de ser falsa. Sou libriana, né! É meu jeitão diplomático que me censura. E outra, meu nariz é muito grande e descobri recentemente que meu pescoço é muito comprido
- ahahaahahah pára, louca! Seu nariz tem um tamanho bacana e seu pescoço é ótimo.
- Mas não sou perfeita!
- Claro que não, estamos falando de “acima da média” e não perfeição
- É mesmo...
- Perfeição é a Angelina Jolie
- Ou não. Perfeição, no nosso caso, diz de tudo e não só de beleza física e a gente não conhece a AJ para afirmarmos isso
- É, não conhecemos, mas ela adotou criancinhas negras e luta pela paz mundial, rsss
- É, ela é gata e pode ser miss. Pronto.
- Isso e nós somos acima da média, diferentemente da ornitorrinco.
- A ornitorrinco se acha cisne, mas nem patinho feio é
- Ela é podre por dentro não tem nada a ver com beleza, né
- Isso, é o pior tipo de podridão. Coitada...
- Se alguém lesse isso ia achar que somos duas amigas com dor de cotovelo da ornitorrinco e que ela é linda e legal
- Não, as pessoas sabem diagnosticar a diferença
- Mas as pessoas não a conhecem e não sabem de toda a novela, rssss
- É. Deixe pensarem o que quiserem...
- Mas ninguém vai ler... então não tem problema

5.6.07

Achado



ahahhaahahahah
Espetacular!
Clip de She's Like the Wind, com o próprio Patrick Swayze e ainda cenas da dança final do Dirty Dance. Show!!!!

Ah, ele é sexy sim, vai! Admita! rsss
(se admitiu, veja cena hilária com direito ao cara rastejando e modelito incrível da "bela" Baby)

Achei também a cena final do Ghost. A Molly acreditou quando ele disse "idem", lembra?

Auto-ajuda: como vencer a insegurança



Aprendi há pouco tempo o óbvio: nossos medos são frutos de nossas inseguranças. Bacana, a solução é acabar com essas insegurançazinhas, mas e aí? Como?

O primeiro passo é raciocinar. O segundo é montar a frente de batalha e todas as estratégias de guerra contra essa poderosa vilã esguia e de mil faces. O planejamento deve seguir mais ou menos a ordem abaixo.

1 – Investigação e acompanhamento para diagnosticar qual das mil faces dessa vilã é a mais vulnerável, qual nos agride mais e, por isso, qual temos que atacar primeiro para enfraquecer as outras;

2 – Diagnosticada a mãe das inseguranças, buscar antídotos racionais para combatê-la. Isso varia de pessoa para pessoa e tem que ser aliado a uma chacoalhada na auto-estima, o segredo de todas as fórmulas (aqui entra todo aquele discurso já batido de se achar bonito, sexy, levantar seus pontos positivos e deixá-los sobressair, etc. Todos já conhecem e é realmente importantíssimo quando colocado em prática sem ser pedante, pelamor).

Voltando a soluções racionais, exemplo: Quero determinada vaga de emprego, mas não me sinto seguro (a) quanto minha competência. Além disso, vou pra dinâmica de grupo com mais várias pessoas e sou desajeitado (a) e estou gordo (a) – essa última é uma preocupação mais feminina, mas entra no exemplo porque entre nós mulheres é quase unânime.

- Se você foi chamado pra dinâmica de grupo é porque não é qualquer um. Emprego tá difícil e seu CV deve ter passado pela mão de alguém que o colocou numa pilha de “sim” pelo menos 50 vezes menor que a pilha de “não”. Nunca achamos que somos realmente bons em tudo quando sabemos que seremos avaliados por alguém que, no caso, tem poder. Normal. Senta a bunda na frente do micro e de livros, jornais, etc, e apura o que você acha que deve. Refrescar algumas coisas sempre é bom. Respira fundo e vai. Quanto a estar gordo (a)... bem, dieta é uma solução a médio/longo prazo, mas, para não perder tempo, pode-se muito bem usar roupas que disfarcem as gordurinhas a mais. Se sou desajeitado posso procurar me atentar a isso, dar uma melhorada ou fazer disso um aliado. De repente pode ser charmoso um desastrezinho se vir acompanhado de um sorriso interessante. Para as mulheres, caminhar com um pé na frente do outro também é bom. Além de evitar tropeções e nos ajudar fisicamente a manter equilíbrio de corpo e mente também torna o andar mais elegante e feminino. E isso nos dá forças;

3 – Com boa auto-estima apoiada em soluções concretas fica mais fácil posicionar-se em campo. Mas, como a insegurança é uma erva daninha, é provável que ela ainda esteja pelo quintal. Matá-la não é fácil. Então, muna-se com todas as armas possíveis e enfrente-a, reflita, converse com amigos, peça ajuda a quem verdadeiramente lhe quer bem (geralmente estes seres são no máximo dois pares de humanos e um animalzinho de estimação);

4 – O medo é algo que nos impede, censura, coíbe, aprisiona. Sinta-se livre e alguém com possibilidades para ___________ (aí, complete com quaisquer das palavras que mais achar conveniente). Nunca há só uma solução. Por isso, descubra o botãozinho DANE-SE (ou Foda-se), que todos temos em algum lugar. Aperte e siga;

5 – Em toda guerra há perdas, mas nessa jamais o desfalque pode ser você. É essa a idéia em acabar com o medo matando a insegurança, certo? O que te merece e o que você quer não podem estar na mira do botão DANE-SE... Arma nenhuma é bem usada sob estado passional. Siga seu coração (sim, drible a frieza, maior efeito colateral desse processo de extermínio) e sua inteligibilidade. Perceba seus valores. Tenha total noção deles. Quando alguma situação depender do outro, analise se ele tem noção do seu valor, de quem é você. Aí, pese o que diz seu coração e seu cérebro. Busque harmonia e deixe as picuinhas fora da jogada. Elas vão ficar pulando, querendo atenção, te chamando. Ignore-as.


A preparação básica para encarar a insegurança de frente e fazer ela se sentir patética é essa aí, dividida nos cinco tópicos acima. Mas depois de conseguir se posicionar e saber usar as armas não pense que a batalha está ganha pra sempre e que a paz mundial reinará. A vilã esguia de mil faces é também cheia de vidas, como nos games. Esteja pronto para enfrentá-la sempre que precisar.

“Ah, mas então de que vale tudo isso se ela não morre?”. O segredo para estar mais próximo do fim é a primeira machadada. Estudos científicos em Harvard, Sorbonne e Massachusetts revelaram que a insegurança se regenera pelo processo de autotomia, logo, como o rabo da lagartixa, depois de cortado a primeira vez, não tem mais esqueleto, nem o mesmo tamanho, nem a mesma flexibilidade e nem a força de antes.



(foto do banco de imagens SXC.hu)

TPM



A vontade é simplesmente dar uma voadora. Derrubar todos os tijolos, todas as cercas e todas as árvores que ainda não deram frutos. Montar num trator e sair detonando com o asfaltamento recém feito, passando por cima, primeiro, da placa “Cuidado, asfalto molhado”. Ou lançar mão da tradicional cena de Um dia de Fúria e, como Michael Douglas, sacar o taco de beisebol e sair quebrando tudo. Pilotar um avião e soltar bombas sobre tudo também seria legal. Derrubar míssil por míssil, vendo tudo explodir e virar migalhas em meio a fumaça. Boa idéia também. Conseguir uma arma biológica é meio viagem... mas seria ótemo. Imagino-me dentro de uma super roupa, com máscaras e demais apetrechos necessários para que o conteúdo letal preso dentro de um cilindro gigante não me contamine. Aí, aperto um botãozinho e solto o veneno no ar matando tudo o que vejo pela frente. Bom, mas simplesmente sair pisoteando tudo, acho que seria mais interessante. Ah, se eu fosse um gigante...

Não sou destrutiva com o que está do lado de fora. Mas, em segundos, posso destruir tudo que está do lado de dentro. Basta eu achar necessário. Ou imaginar que seja. Entre o certo e o duvidoso, aguardo uma decisão com uma mochila cheia de dinamite, granada, pentes e cintos de balas, bazucas, uma faixa vermelha do Rambo no bolso e aquele esqueminha do Men in Black, para apagar a memória, sabe?!


(Ilustração do amigo Cleverton Gomes)