31.5.07

Gripe + sozinha no apt + frio + cabelo desarrumado = este post total "mulherzinha"



A parte mais linda do filme está nas entrelinhas da cena que Mr.Darcy ajuda Elizabeth Bennet a subir na carruagem, não?!?

Esta música não faz parte da trilha original, mas achei que caiu bem... letra e arranjo contemporâneos pra essência da problemática entre os dois (Lizzie e Darcy). A edição também está legalzinha.

Dare You To Move, da banda californiana Switchfoot

Não tá virando pizza...



Não concordo com o chiqueiro que a reitoria da USP se transformou com a ocupação dos estudantes. O coração de uma das instituições de ensino superior público mais respeitáveis do país não merecia aparecer na mídia e transpor domínios ".br" na rede como vem acontecendo, mas, enfim, parece que uma luta por ideais está tendo sucesso.

Se por um lado as imagens estampadas na mídia são turvas, por outro, o discurso dos estudantes está cada vez mais claro. No blog, cujo layout acompanha o desapego pela estética, inúmeras mensagens de apoio fortalecem a causa.

28 dias após negociações, estresse e impasses políticos e de força da PM, uma primeira bandeira foi fincada em solo conquistado: Serra alterou partes importantes do decreto, que garantem autonomia das universidades (a criação dessa Secretaria Estadual de Ensino Superior foi mesmo uma grande caca!).

Pelo menos, desta vez, algo está sendo feito em meio à sujeira, mas com objetivos limpos. Dá pra relevar. Pelo jeito não vai dar em pizza, mas que também não fique só no churrasquinho...

Acabei de ler as últimas a respeito e não dá para apurar porque estou trabalhando. Sugiro ler sobre o assunto no Uol Educação. Clique aqui e vá direto pra lá.

(foto copiada do Uol, de Antônio Gaudério/Folha Imagem)

28.5.07

Nando Seixas Benigni Matogrosso*



Sábado fui ao show do Nando Reis, segunda apresentação em São Paulo do novo CD/DVD Luau MTV. Ele cantou algumas músicas novas, mas a maioria foi hits maravilhosos desde Marvin, ainda da fase áurea dos Titãs, até Sim, Sou dela e N, do recente álbum Sim e Não, de 2006 (aliás, um dos motivos deste novo CD não ter muitas faixas inéditas).

O cara canta muito. Muito mesmo. E além de cantar tem uma simpatia incrível, um jeitão esquisitão cativante e presença de palco. Falando nisso, quando a cortina se abriu e vi os músicos, notei a percussionista. Ela estava lá quietinha, quase se misturando aos instrumentos e demais objetos do palco, mas tinha algo, um certo sex appeal musical. Tinha e tem. Mais tarde descobri que era a Lan Lan, a mulher da Cássia Eller, sabe?! Ela está tocando com Carlos Pontual e sua turminha, que formam Os Infernais, caras muito bons também. Afinados e refinados (apesar de o tecladista ser bem bobo e parecer o Frank Aguiar).

O show é dividido em duas partes, uma total acústica, com todos sentadinhos e comportados, zen, e outra mais eletrizante, com mais jogo de luzes, movimentos extravagantes e acordes vibrantes. Das fotos que fiz, as que mais gostei foram essas aí, bem parecidas, por sinal, e da segunda parte do show.

No começo deu um pau na estrutura e o som ficou capenga. Nando Reis fez uma “embromation” superdescontraída e também mostrou que voz e violão são mesmo suas especialidades, junto das letras profundas e com raros refrões. Poesia musicada, prova de que para existir harmonia nem sempre é necessário ter rima nos versos.

Gosto muito do Sim e Não, mas, definitivamente, o meu álbum preferido é o Para Quando o Arco Íris Encontrar o Pote de Ouro, de 2000. Nele estão as faixas All Star (“Estranho é gostar tanto do seu All Star azul”), Mantra (“Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare”), No recreio (“Quer saber quando te olhei na piscina se apoiando com as mãos na borda”) e Relicário (“O que você está fazendo? Um relicário imenso desse amor”). Para ser melhor, só se tivesse também As coisas tão mais lindas, Não vou me adaptar e Dessa vez (dá uma vontade de chorar!). Dessas, ele só não cantou Não vou me adaptar.

Bom, escrevi demais e escreveria trocentos mil toques, mas preciso parar com essa compulsão. No geral, depois percebo que poderia subtrair mais de um parágrafo sem prejudicar o entendimento do texto (esse é um deles, ahahaahah). O show foi bom, bom mesmo, não matou ainda minha vontade de ir a um show, mas saciou um pouco a fome (a sede, né?!). Múltiplo e cheio de performances lombricóides estranhas, Nando Reis está meio Raul Seixas, Ney Matogrosso e Roberto Benigni. Um artista completo e maluco. A noite foi boa e na última música (Do seu lado) fui surpreendida com o melhor beijo dos últimos meses. Perfeito, ainda mais porque o imaginava exatamente daquele jeito, mas não que se concretizaria. Por tudo, valeu a entrada inteira, já que a meia tinha “acabado”.

Em tempo: dependendo do que perdoar eu não perdoo. Mas que é lindo e verdadeiro o último verso da música A minha gratidão é uma pessoa, isso é. "E estavam livres da perfeição que só fazia estragos".

* Atualizado às 21h50

25.5.07

Sobre o intervalo

É mais ou menos assim: a gente nasce, aprende a andar e a falar, até uns 18 anos a gente cresce fisicamente e os menos burros nunca param de crescer em todos os outros aspectos. Por mais bonzinhos que sejamos percebemos que dinheiro é bom e queremos sempre mais e ele nunca é suficiente. Alguns têm sonho X pra daqui 5/10/15 anos, outros têm Y, outros dizem não ter, mas na verdade têm sim, só que não gostam de expor ou não têm saco/vontade/culhão para ir atrás. A gente vai seguindo, planejando antes ou montando as rotas conforme a previsão do tempo, mas sabendo que de qualquer forma aquele traçado é falível. Encontramos seres semelhantes de todo tipo no meio, uns a gente chuta, outros a gente abraça, poucos a gente ama e alguns a gente empurra para cairem de boca e ficarem sem os dentes da frente (geralmente estes nos sacanearam e ficamos emputecidos com propriedade). Aí, um belo dia tudo pára e, ao abrir os olhos, damos de cara com São Pedro procurando nosso nome na lista VIP. Por isso, é melhor fazer coisas gostosas e/ou com gosto na maior parte do tempo. De repente: pluf!

24.5.07

Poesia em degradé



O inverno consegue ter uma poesia em tons de cinza extraordinária. O cinza não é uma cor alegre, uma cor expressiva, mas existe em vários tons dentro do degradé do preto. Talvez, assim como tem o poder de desmontar o que é a ausência de cor, o cinza também tenha o poder de revelar tudo o que se esconde por trás das cores. O cinza é um infiltrado, um agente duplo, mas tem a sensibilidade dos bons filmes em P&B, que conseguem aguçar os sentidos e envolver os espectadores com mais subjetividade e beleza que muitos escancarados coloridos.

Esses dias li um texto de um coleguinha que citava a beleza do que é triste e melancólico. Eu não vejo o inverno como uma estação assim porque sou entusiasta dos meses mais frios, mas reconheço (é inegável, aliás) que o inverno é mesmo triste e melancólico e, por isso, belo. O frio sugestiona refletirmos mais, pensarmos mais, repensarmos mais ainda. É como se, quando apertamos as mãos e comprimimos os músculos, buscando aproximar e unir cada uma de nossas células de maneira a formarmos uma barreira indestrutível para frio nenhum derrubar, tivéssemos um momento tão cúmplice com nós mesmos, que propiciássemos essa introspecção. O inverno acaba sendo triste e melancólico porque inspira a solidão.

E quando inspira a solidão faz pensar sobre o estar com o outro, sobre dividir cobertores na sala vendo TV, dividir o vapor do chuveiro fervendo no banheiro, dividir ar quente no carro, dividir sopa de pacotinho. O dividir é um verbo de inverno. Campanhas contra fome, campanhas do agasalho... filantropia tentando aquecer buracos frios causados por erosões presentes em todas as demais estações.

O inverno é melancólico e faz dançar ao ritmo de melodias melancólicas. As músicas que embalam a estação são mais calmas, mais lentas, mais orquestradas do que as que embalam as outras. A trilha sonora acompanha o assobio do vento, os passos firmes de pernas que doem ao se locomover lentamente ou que, apressadas, sobrevoam os pisos querendo fugir do céu aberto e chegar logo a algum lugar onde possam relaxar e sentir o sangue circular mais aconchegado nas veias menos contraídas.

O inverno dá cãibras e muitas vezes não repuxa só pés, mãos, pernas e braços, mas faz declinar o canto dos lábios e dos olhos. O inverno é triste. O frio propicia o acesso às gavetas recheadas não só de gorros e cachecóis, mas também de lembranças lastimosas, de cenas e cenários chorosos. E ele respeita e faz questão de valorizar o conteúdo dessas gavetas, prova é que dá mais atenção ao choro que qualquer outra estação. Se no verão as lágrimas caem e aquecem suavemente as bochechas, no inverno elas rolam geladinhas sobre a pele e nós não temos como negar a existência do líquido que (parecendo ter mais sal e mais açúcar que o normal) deixa um rastro incômodo no rosto.

Mas em meio a todo este desconsolo reside a beleza, e ela sobressai. O segredo está nos movimentos, está aí a essência. Bons filmes em P&B conseguem aguçar os sentidos e envolver os espectadores com mais subjetividade e beleza que muitos escancarados coloridos. Todos os movimentos têm tanta razão de ser que apuram o sentido de todas as coisas. Cada um deles é reflexo de um pensamento, de um diálogo interno, de uma decisão, de uma dúvida. Os olhares ao longe guardam muitas vistas, muitos bastidores e são irreproduzíveis, próprios, únicos de quem os vê. É essa singularidade que está implícita no degradé de cinza. Nossos dias são versos e o inverno é a própria poesia.

Prezado Inverno,



Chega logo com força e indaga minhas emoções, aflora minhas sensações e me cubra de expressões. Tira minha preguiça da cama, arranca o comodismo das minhas cobertas. Ponha pra lavar o choramingo das minhas meias encardidas.

Cuida para que eu pare de encobrir minha caspa mental com gorros coloridos e mostra minhas veias do pescoço saltadas sem cachecóis. Por favor, ouça minhas jaculatórias.

Sopra com seu vento meus temores, abraça com seu cinza minhas angústias e toma para você minhas lágrimas. Esbofeteia meu corpo sem lã e me faz acordar... mas depois canta uma música lenta para se desculpar.

Abra meus olhos fechados pelo frio, faça-os enxergar o que há dentro de mim. Faça-me cuspir tudo de ruim ou digerir o que ainda é necessário. Estremeça minhas estruturas para que eu discirna quais são os verdadeiros alicerces, aponta o que tem precisão e quebra termômetros incertos.

Esfria meu corpo e aqueça minha alma.

Hold me



Barulho, buzinas, freadas bruscas
Cheiro de borracha queimada, cheiro de azedo no ar
Passos firmes
Pegadas na calçada úmida
O nariz aponta para o chão, os olhos vêem através do concreto
O quadril joga de um lado para o outro em ritmo harmônico, as mãos se mantém inertes nos bolsos
Os neurônios trabalham inquietos
Não relaxam, não sossegam
Ouço pegadas
Você está aí?
Você não está atrás de mim
Está ao meu lado?
Está aqui?
Está aí e perto?
Está comigo?
Esteja e esquente meu frio constante
Seja meu agasalho, seja meu capuz, seja meu acalento
Não me deixe mais tremer

22.5.07

A menina da roda gigante



Você já viu criança quando chega pela primeira vez em um parque de diversões? Os olhos brilham e sorriem junto com os lábios. O corpo inteiro parece estar feliz e louco para sair correndo para experimentar o primeiro brinquedo. Na fila, a ansiedade de chegar logo a sua vez movimenta as pernas e os braços. Aí, quando sobe na roda-gigante e vê todo o parque de cima, os olhos ficam ainda mais brilhantes. Quando desce, se prepara para o próximo brinquedo, e depois para o próximo, e depois para o outro. Sempre com a mesma euforia. Em outra ida ao mesmo parque parece que é a primeira. E assim todas as vezes. Essa criança sabe que cada novo brinquedo dará uma sensação diferente daquela que já sentiu antes, porque o dia é diferente, as pessoas que a acompanham são outras e o sorvete vai derreter mais ou menos que das outras vezes. Por isso ela sempre se prepara para a ocasião e sempre chega com os olhos brilhando e sorrindo acompanhando os lábios.

É assim que a minha amiga Thamara vive a vida, como uma criança que adora ir toda semana ao mesmo parque de diversões e sente tudo de uma forma diferente. Se cada um de nós tem um pouco de infância ainda nas veias, a Thamara tem um pouco mais, e esse pouco corre ao lado de suas porções mulher e maluca, que fazem dela uma pessoa tão especial. Todos os dias que dividimos o mesmo ambiente de trabalho ela chegava com um brilho especial nos olhos pequenos que sorriam acompanhando os lábios. Do corredor, o barulho dos colares grandes e do salto alto avisavam que ela logo apontaria na sala e daria o “bom dia” animado, seguido do tirar da bolsa do corpo para friccionar as mãozinhas num gesto de “Vamos lá, mãos a obra! Oba!”. Os dias passavam rápido ou devagar, pois isso não dependia dela, mas sempre muito divertidos e bem amparados pela certeza de que uma pessoa boa estava ali, disposta a ajudar, ensinar, quebrar-galho e também fofocar pequenas maldades.

A mulher-criança Thamara é meio maluca, como já disse. Os cabelos cacheados balançam, perfumam e dão a ela uma beleza única. Os olhos pequenos sorriem acompanhando os lábios finos e faladores. As palavras ditas fazem rir, chorar, preocupar e até embaralham a gente. O repertório musical é farto no sertanejo, coisa de quem não tem medo de mato, nem de bicho e nem de mau tempo. Ela é maluca e encanta pela simplicidade de sua alma nenhum pouco egoísta, mas que se divide e compartilha felicidades e tristezas.

Mas a Thamara não é só simplicidade não. É uma mulher-criança-maluca meio perua também e cheia de glamour. Adora uma moda, uma loja de roupa e sapatos novos. Aonde vai, onde pisa, mesmo insegura, pisa com força para deixar a marca do pé. Risada alta e bêbada gira... uma pessoa realmente cativante e marcante onde quer que vá. Agora, desafiando novos terrenos, ela deixa todos um pouco “menos”. Menos felizes, menos animados, menos tranqüilos, menos completos. Leva de cada um, um pouco de saudade, de amizade e de histórias tão bobas quanto rotineiras, aquelas que de tão tolas nos fazem lembrar e rir sozinhos pelo resto da vida.

Mais uma vez ela sobe na roda-gigante e vê uma imensidão de oportunidades para brincar. Desce, segue para outra fila e nos deixa com o coração molengolato, mas leva os olhos pequenos sorrindo junto com os lábios para alegrar outras pessoas. A nós que ficamos, restam visitas e encontros neste grande parque de diversões que dividimos. O bom é saber que entre um brinquedo e outro pudemos observar o parque do alto da roda-gigante junto com ela. E isso, certamente, fez uma grande diferença.

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Este texto é de 2005 e também atemporal.

21.5.07

Domingo no parque



Olha, ali diz que tem carrapato estrela aqui...
Nossa!... e as pessoas deitam em cangas no chão, olha que doidos... mas deve estar gostoso ali no solzinho...
Na placa diz que não é nem para fazer paradas...
Uma vez fiz uma matéria em uma fazenda que tinha muitos bois com vários, nojento, os carrapatos estrela são deste tamanho ó, sério
Inchados, né?
É, cheios de sangue dos bois.

(...)



Olha, um topá... e xespei...
Rrravapicá?
Não, você respeita a fonética da sílaba, é Ravapica.
Ah. Olha que patinho bonitinho!
É, deviam todos morrer com tiros “pow, pow, pow”
Isso, as cabecinhas iam caindo de lado na água, que dó...

Olha, uma turtle...
Ninja?

Aquilo é uma ilha de verdade? será, será? Quero nadar...
Ah, acho que sim, né. Ai, credo... não nadaria aqui nem a pau. Deve ter um monte daqueles bichinhos, como chamam mesmo, aqueles (argh)!! ... com a casinha nas costas...
Caramujo
É, isso
Esquistossomo... teria placas, não?
Não, é meio óbvio que deve ter... Eu quero ir ali naquele banquinho!
Como a gente chega lá? Acho que tem que dar uma puta volta, nem...

(...)

Olha que casal lindo! Daria uma foto ótima... um contraluz... as árvores no fundo... putz, não acredito que estou sem a máquina.
Nah, casais são todos horríveis, o amor não existe, é tudo uma farsa, hehehe
Ó o banquinho lá...
Não tem acesso, não dá pra ir lá
Olha, tem uma capivara lá do lado do banco...
Onde? Não estou vendo... ah, vi...
Eu quero ir no banquinho, eu quero ir no banquinho!

(...)




Olha, uma capivarinha aqui perto, ela ta quase subindo no caminho...
Elas mordem, sabia?
Sabia né, são selvagens... “capivarinhaaa”
Não chama ela, meu!
É, se ela vir eu tenho um treco
Medo?
Ah, sim, né

(...)

Olha! Olha! Esse passarinho é sensa... parece de exposição
É lindinho mesmo, olha a maquiagem nos olhos dele...
Nossa, que passarinho lindo. Devia estar numa gaiola ele ia ficar mais feliz lá
“Opa”!

(...)

Aiiiiiii
Que foi?
Ali ó
Calma, é um besouro e não um carrapato estrela

(...)

Vamos embora por ali?
Sim, pelo corredor de palmeiras imperiais



(...)

Você acha bobo falar ao contrário
Acho bem bobo, mas é legalzinho
Você nunca tinha ouvido?
Não
De que lugar você é? Hehehe É comum, não muito difundido, mas comum. Tem umas palavras legais, tipo bosta = tabos. Você pode dar uma entonação diferente, tipo com sotaque americano e bosta vira mesas; tables.
Ahahaah, legal
A regra para palavras que ao contrário ficam iguais diz que você pode mexer nas sílabas, por exemplo, careca é careca, aí fica récaca ou cacaré
Ah, mas não pode, essa regra não é boa, vai contra a brincadeira que é falar ao contrário!
Nah, a regra é boa sim... e tem também o caso de monossílabos. Cu, por exemplo, é uc, inverte as letras...
Uc, tipo marido da Angélica? Luciano é cu, Luciano Uc...
Isso, isso! Ahaha

(...)

Você cansou de mim?
Não, bobo... eu já disse que gosto do seu relevo?

(...)

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Fotos da colega Lídia Bernardes

18.5.07

Ouvindo incessantemente



Wilco. Faixa 1 do álbum Sky Blue Sky.
Bom fds a todos nós!

17.5.07

17 de maio especial

Ninguém sabia, mas aquele 17 de maio era um dia diferente e comemorativo para a senhora de 78 anos que morava num sobrado no fim da ruazinha do bairro. Estava um pouco frio, mas ela levantou-se ainda mais cedo. Às 6h já estava com os chinelos fazendo pléc-pléc pela pequena casa, toda com carpete de madeira.

Tomou uma caneca grande de café com leite, comeu bolachas salgadas e torradinhas com geléia, habitual desjejum, para acompanhar os seis comprimidos matinais, que desciam garganta abaixo a contragosto, mas necessários de acordo com o médico.

Lavou a pouca louça rapidinho, colocou meias quentinhas, sapatilha confortável, escolheu um dos casaquinhos pendurados no mancebo do quarto e seguiu para a porta. No caminho, pegou o carrinho de feira, que já guardava uma sombrinha grande. “É sempre melhor prevenir do que remediar”.

Desceu os poucos degraus do dobrado e saiu cantarolando uma antiga canção de Francisco Alves :

“Quando a noite descer/ Insinuando um triste adeus/ Olhando nos olhos teus/ Hei de beijando teus dedos dizer/ Boa noite amor/Meu grande amor/ Contigo eu sonharei/ E a minha dor esquecerei/ Se eu souber que o sonho teu/ Foi o mesmo sonho meu”

Interrompia os versos apenas para da bom dia à vizinhança. Na feira, comprou duas batatas, uma mandioquinha salsa, uma cenoura, dois tomates, uma caneca de ervilhas frescas e gengibre, o segredo de muitas de suas receitas. Colocou no fundo do carrinho. Só faltava a galinha caipira! Por sorte ainda havia gente que comprasse e a banca da dona Zezé continuava sobrevivendo. Sem muito papo naquela quinta-feira, ela voltou para casa.

O dia não passava. Ela guardou todos aqueles ingredientes e fez o almoço. “Um arroz com feijão e carne moída está bom”, pensou. Em meia hora estaria pronto. Sentou no sofá com o barbante e a agulha e continuou a colcha de crochê que estava encomendada por uma boa cliente. O tempo precisava passar rápido... mas a colcha ficou pronta e ainda eram 10h30. “Tudo bem, com a fome que estou, almoço mais cedo”. E assim o fez. 11h ela estava colocando a conchada de feijão no prato.

A tarde foi mais tensa. O jantar especial seria servido às 20h e antes ela tinha várias coisas a fazer e nao podia desrespeitar os horários. Às 13h iria na manicure; às 14h30 na cabeleireira, que enrolaria seus cabelos; 16h tinha que estar em casa para passar o vestido novo cor de cereja comprado há um mês e meio, lavado e guardado em uma caixa com sachês perfumados no armário. Ela tinha reservado uma hora só para isso, pois as pregas da saia dariam certo trabalho e ela tinha que ter calma, já que as mãos viviam com cãimbras. Ainda disporia tudo que ia precisar sobre a cama para se arrumar. Perfume, presilhas para os cabelos, pó de arroz, batom, sapato e as “roupas de baixo”. Só depois disso faria o jantar.

E foi o que aconteceu. Às 19h estava com a sopa pronta e podia tomar o banho enquanto a comida curtia na panela. Ela estava ansiosa demais. Nunca comemorava o aniversário do marido, porque ele não gostava. O dela era exatamente no Natal, então a festa ficava mais concentrada no menino-Jesus. Mas o dia 17 de maio havia sido estipulado o dia deles. Aquela data sem importância para a maioria das pessoas do mundo.

Quando ele veio de Portugal a família passava fome e o que salvou os sete irmãos, pai e mãe, havia sido um emprego na empresa de telecomunicações do Rio de Janeiro. Ele era muito grato. Também foi lá que ele conheceu a moça mais formosa da firma, que limpava a enorme sala onde se reuniam telefonistas lindas, que falavam línguas estranhas e eram responsáveis por ligar pessoas de diferentes países por meio de um simples aparelho telefônico.

A empresa sempre fazia uma festinha no dia 17, o Dia das Telecomunicações, e foi um dia após a mais animada delas que, aos 60 anos, ela ficou viúva. “Lembre de mim com a alegria que compartilhamos ontem”, ele pediu.

O prato preferido dos dois estava cheirando na casa inteira e ela espirrou mais perfume. O filho único que morava no exterior ligou para ver se estava tudo em ordem e desejar um bom jantar. “O telefone faz milagres, me deixa perto de você”, ela falou. Desligou a chamada e sentou-se à mesa. A janela estava aberta e junto com o ventinho frio que fazia veio o som do violão dos seresteiros contratados na véspera. Eram 20h em ponto. Ela sorriu, mergulhou a colher no prato fundo de louça branca ouvindo: “Quando a noite descer/ Insinuando um triste adeus/ Olhando nos olhos teus/ Hei de beijando teus dedos dizer/ Boa noite amor/Meu grande amor/ Contigo eu sonharei/ E a minha dor esquecerei/ Se eu souber que o sonho teu/ Foi o mesmo sonho meu”.

Encruzilhadas


O livre arbítrio não é tão livre assim. Estamos presos às condições do presente. Então, só dá para usarmos de nosso livre arbítrio um dia de cada vez. Não há como prever o futuro e programarmos escolhas e caminhos. Nossos dias são tecidos lentamente, com decisões abruptas, muitas vezes, mas consolidados de forma morosa.

O que eu sou hoje, o que eu escolho, o que eu decido, o que eu me arrependo de ter feito ou deixado de fazer, os paradigmas que desmonto, as leis que faço para mim, as regras que quebro, os mandamentos que rompo, os pensamentos que transformo. Em tudo lanço mão do meu livre arbítrio, tão perene em minha condição de ser humano racional, quanto intermitente, ao passo que é limitado pelo curto alcance de minhas certezas. Isso tudo não tem nada a ver com um ou com outro. Tem a ver comigo. Sendo um drama da individualidade, deve ter a ver com todos.

Neste traçado de caminho sempre há bifurcações. Quando me deparo com encruzilhadas de escolhas sempre me vejo em outra: a do antagônico “que bom, posso escolher” e “que complicado ter que escolher”. Aí, a insatisfação anuvia tudo. A insatisfação ou a insegurança, não sei. Até as moscas parecem ter livre arbítrio e até elas, com a vida bem mais simples que a nossa, batem sempre com a cabeça no vidro... então, acho que não é um problema preocupante.

A minha solução é sempre partir para a intuição. Nunca dei atenção especial e fiz balanços do que deu e não deu certo com base nela, mas sei que a maioria dos resultados me trouxe satisfação. E é isso que importa, não? Claro que arquiteto sobre o que pressinto ou faro, mas a decisão acaba começando mesmo por aí. A fórmula deve ter sido enraizada pela frase-conselho da minha mãe: “siga o seu coração”, que de certa forma eu a absorvi sem liberdade (quando ainda nem imaginava o que era isso), mas hoje, que penso saber, dou meu “sim” a ela.

O iluminista Descartes tira a responsabilidade de Deus, na verdade, tira Deus da jogada. Ele diz que o ser divino não é o culpado dos meus erros nem dos meus pecados, sou eu que me engano, sou eu quem peco, dependendo de como uso meu livre arbítrio. É verdade.

Superficialmente parece um peso (e cada encruzilhada não é literalmente uma cruz?), mas é essa corda bamba que dá sentido para a vida. É ela que me impulsiona a chegar do outro lado sem cair; e também é dela que, caso eu me esborrache, tenho que apostar em me equilibrar de novo. Se tudo nos levasse de forma direta e sem curvas, como uma esteira rolante, seríamos apáticos, gélidos, e não teria graça. Nosso livre arbítrio é o que nos mantém mais longe do freezer e mais perto do vento.


Foto tirada há dois meses... R.Pe.Vieira com Conceição, Cambuí, Campinas/SP

15.5.07

A água líquida cobre 70% da superfície do nosso planeta

Mergulhar numa piscina de onda
Brigar com a correnteza do mar
que te leva pra lá, quando se quer vir pra cá

Entornar o Atlântico no Pacífico,
Provar do Índico e do Mar Ártico
correr da praia sem sucesso ao ver o Tsunami chegar

Nadar livre. Presa na terra, solta no mar

Adoro o risco de me misturar à água
quando o maremoto é você.

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“Sem os oceanos nosso planeta seria inabitável. Os oceanos temperam os extremos sazonais; eles evaporam e fornecem água doce para a vida terrestre; e a vida marinha é um elo chave na cadeia de alimentação global. Além disso, os oceanos têm uma influência ainda não totalmente compreendida sobre as variações climáticas.”

Da Nasa, no arquivo Uol Inovação (2002)

E eu me sinto sempre criança... *

Quando criança me projetava uma mulher independente, sempre de salto alto, com jóias finas no pescoço e aproveitando o pouco tempo livre longe do meu emprego – que me faria a mulher mais bem sucedida do mundo – para cuidar dos cabelos e pele em salões de beleza. Estaria sempre com um notebook cheio de informações e teria uma lista de bons contatos do ramo, uma agenda lotada de compromissos em lugares chiquérrimos e claro, teria um relacionamento estável com um homem à minha altura. Inteligente, com ótimo senso de humor, decidido, seguro e muito charmoso, ele me amaria incondicionalmente e entenderia minha rotina frenética.

Enfim, fazia a projeção de uma mulher bem diferente do que é minha mãe. Cresci, amadureci, escolhi uma profissão mais com o coração que com o cérebro e abortei o plano infantil. Hoje percebo que por mais diferentes que sejamos, cada vez mais me torno um pouquinho da minha mãe.

Quando me transporto para minha infância, sempre me vêm à mente as horas e horas que passavam despercebidas ao lado da minha mãe. Uma mãe que faz bolos e festa por si só. Uma mãe que agrada e dá chinelada se preciso. Uma mulher que sabe que está constantemente aprendendo e constantemente ensinando.

Procurei incessantemente uma palavra que resumisse minha mãe e que talvez se identificasse com a sua. Imaginei-me criança e pensei em “perfeita”, mas achei exagero. Ninguém é perfeito. Então, depois de me conscientizar da derrota para o dicionário da singularidade, resolvi descrever o que ela é com o resumo de boas imagens vindas da memória e do coração, memórias de criança que rodopiam sem formarem uma só palavra especial. Foi aí que acionei meu lado criança-piegas e arranhei alguns versos simplórios, sem enfeites e sem rima.


"Minha mãe é aquela mãe que toda criança quer ter
É levar para a escola, dar beijo de boa noite, fazer bolo de chocolate
Minha mãe é aquela mãe sábia na simplicidade
É o encontro de palavras certas, de frases confortantes, de gestos e abraços
Minha mãe é como brisa leve que acaricia os cabelos das pessoas puras
É mão aberta, é caridosa, preocupada e sempre disponível
É criança que brinca com chuva e faz chover sobre as flores fazendo tudo ficar mais bonito
É mágica que faz o amor brotar sobre todo rancor
É meu passado, meu presente, meu futuro e minhas entrelinhas. É parte de mim nela e parte dela em mim."


Reconheço que seria um absurdo eu tentar ganhar a vida escrevendo poeminhas, mas acho que consegui transmitir que minha mãe é doçura, é meu braço direito e um pouquinho da minha cara, do meu ser, da minha história. É um porto seguro que permite que eu me dispa de toda maturidade e auto-afirmações para que deite no seu colo e peça cafuné quando preciso. Ou quando não preciso, mas sinto vontade.

Aqueles que como eu têm a sorte e o prazer de ter mãe do tipo “mãezona” acabam sempre acreditando que possuem “a melhor mãe do mundo”, mesmo depois de descobrir seus inúmeros defeitos, suas inúmeras falhas e fragilidades. Acho que este ponto que intersecta o lúdico e o palpável, permitindo que sintamos um amor incondicional, junto ao reconhecimento de que a mais perfeita também é suscetível a erros, colabora para sermos mais tolerantes, mais fortes e também mais leves.

Infelizmente esta relação se torna cada vez mais rara por aí. É por isso que me sinto imensamente feliz e orgulhosa quando apresento a alguém ou cito esta mulher tão importante para mim. A sensação é a mesma de quando, alguns bons anos atrás, minha casa vivia cheia de colegas, somando entre cinco a dez por dia. Sempre ouvia da boca de todos (e ainda ouço), com uma invejinha: "sua mãe é muito legal, pôxa...". Nunca tive ciúmes do tempo que ela despendia ouvindo confidências, dando conselhos ou fazendo café forte com bolo de fubá para alguns e milkshake com bolo de baunilha para outros. Eu sabia que o amor dela e o beijo de boa noite eu só dividia com minha irmã.


*foto incluída às 21h45

13.5.07

Problemas, solução... (II)

Mais um "reciclado". Este também estava no Gaveta de Idéias e não quis ficasse lá perdido...




03/14/07
Bomba relógio


Garganta, grita!
Mãos, batam!
Pés, corram!
Ossos, sustentem!
Músculos, trabalhem!
Peito, pulse! Mas não pulse como pulsa o pulsar frágil
Músculos, trabalhem, mas não um trabalhar medíocre. Mexam-se
Ossos, sustentem, mas não como o carapaça de uma cigarra. Que acaba
Pés, corram, mas corram para a direção correta (e sem perder velocidade)
Mãos, batam, e batam com a força necessária para quebrar tudo o que não presta e está ocupando espaço
Garganta, grita, mas grita sem rouquear, para que o grito seja permanente e não caia no silêncio novamente
Vida, age, mas não aja pela metade, pois ser metade não me basta
Vida, cura, e me diz que posso trocar o olhar distante pela intensidade outra vez
Rasgo corto enforco mato atiro soco chuto cuspo arremesso vomito quebro enterro

Guardo tic
Guardo tac
Guardo tic
Guardo tac
Guardo ti
Guardo t
Guard
Guar
Gua
Gu
G

tic tac tic tac tic tac...

8.5.07

Problemas, solução...

Problema 1 - Não ando com vontade e nem inspiração para postar nada decente;
Problema 2 - Ando incomodada em ter deixado coisas que gostava na Gaveta de Idéias;
Solução óbvia - Postar o que gosto e está lá, aqui.


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03/01/07
Final da rotina do homem comum

Ele estava saindo calmamente pela porta da frente de uma casa que servia de depósito de antigos barris, cujo conteúdo ninguém sabia o que era, pelo menos, ninguém da redondeza. Um homem comum. Calças escuras e camisas claras, sapatos engraxados o suficiente para não parecer um andante maltrapilho. Os cabelos eram grisalhos e sebosos. As mãos sempre trêmulas devido a um choque emocional que tivera na infância. Os passos eram curtos e não parecia que tinha medo do trajeto que fazia diariamente, a partir das 22h30, da porta do depósito até sua casa, que ficava a poucas quadras dali.

Era um homem comum. Um pouco antiquado talvez. Do bolso direito da calça ele sempre puxava um relógio redondo e bastante antigo, como os de meados do século XIX. Era mesmo uma relíquia. No bolso da camisa um lenço xadrez sempre estava presente. Caminhava com o queixo paralelo ao chão, nunca apontando ou esquivando-se dele. Cantarolava algo inaudível e só. Não pensava muito enquanto voltava para casa. O olhar era triste, psicótico ou calmo, não dava para discernir. Mas o fato é que era apenas melancólico. Era um homem comum que vivia de forma comum, com gestos comuns e trajes comuns.

O homem comum tinha segredos. O conteúdo dos barris era, sem dúvida, o maior deles. Todos queriam saber o que havia lá, mas, como a melancolia confundia-se com psicose, ninguém tinha coragem de arriscar. O homem comum cumprimentava as pessoas do bairro dias sim, dias não. Mas isso não era fielmente intercalado. Havia semanas inteiras que o homem comum passava sem virar a face e levantar a mão para um aceno. E havia dias que esboçava um sorriso a até quem não conhecesse ou não recordasse o nome. As pessoas não o entendiam e jamais perguntavam sobre o depósito de barris.

Mas em uma noite de inverno, quando trancava a porta do depósito, a rotina do homem comum foi quebrada para sempre. Ele sentiu um calafrio e deu mais uma volta no cachecol, imaginando que fosse uma sensação normal conseqüente dos poucos 4ºC que fazia. Pela primeira vez, o homem comum foi para casa sem cantarolar, mas pensando sobre a família que o abandonara quando se desligou de tudo e passou a compartilhar seus melhores momentos com prostitutas e doses de whisky vagabundo.

Pela primeira vez, o homem comum pensava no caminho e olhava ao redor. Continuava com aparência inexpressiva, mas pensava nas contas a pagar, no lixo que deveria ter deixado na calçada na noite anterior para o lixeiro levar e também no conteúdo dos barris do depósito. Pela primeira vez, o homem comum apertou o passo. Os calafrios haviam aumentado e o cachecol não era suficiente para aquecê-lo, nem suas luvas velhas, nem o gorro de lã encardido, nem a jaqueta pesada de couro bem forrado, que tirara do fundo do guarda-roupa. Talvez nada fosse suficiente. O homem comum não sabia, mas a poucos metros dali estava o homem que iria matá-lo.

Ao dobrar uma esquina, o homem que ia matar lhe surpreendeu pelas costas com um mata-leão. Logo, uma venda nos olhos tirava a visão do homem comum. Outro pedaço de pano o impedia de gritar. As mãos foram igualmente subordinadas e tudo estava sob o controle do homem que ia matar. O homem comum não conseguia pensar e nem cantarolar o que era inaudível. As batidas de seu coração embolorado estavam aceleradas e ele ainda não havia sacado o relógio do bolso. Não sabia que horas eram. Era a hora da morte.

5.5.07

(des)equilíbrio

Não dormi. Minha cama não me acolheu bem. Meu cobertor não me cobriu como deveria. Acordei cedo. O chão estava frio demais. O café estava quente demais. O pão estava macio demais. Saí. As ruas estavam um porre. O sol, forte demais, fez minha cabeça doer. Voltei para casa. Sem parada. O teto não me protegeu. O sofá da sala não me confortou. Nada está bom, nada me aconchega. A solução existe e é o melhor lugar do mundo. Mas está longe, muito longe de mim. Mais longe que os concretos 100 km de distância. Tão longe que não funciona a telepatia. Deito na cama. Ela não me acolhe. As cobertas me sacodem. Pulo dali. O chão, dessa vez, me expulsa. Vou até o porto seguro. Chego tão perto que até sinto o cheiro da única coisa que me satisfaz e me tiraria desse incômodo. Volto pela estrada. Ela me aborrece sem piedade. Sigo atenta. Bebo um café pelando, olho pro vazio e espero. Pontuo tudo. Para não desesperar.

2.5.07

Palavras mudas não servem

Eu falo muito. Mas em certos momentos não é preciso falar muito. Nesses momentos, grande quantidade de palavras não supre necessidades específicas da fala. O ideal é falar pouco e no alvo. Queria tanto falar certas coisas em certos momentos, mas não. A fala trava. Os olhos dizem, só que não são claros, e deixam óbvio que há falas que têm que ter som. Mas a garganta fecha e o cérebro fica falando sozinho pra dentro. Fica falando tudo que deveria estar sendo dito pela boca, mas não. Como o cérebro não tem caixinhas de som para mandar o diálogo pra fora, aquela fala vira monólogo e perde o sentido. Pior, não inventaram ainda como salvar o que virou monólogo num pen drive e enviar o documento anexo por e-mail para alguém o baixar e ouvir escolhendo o Windows Media Player, por exemplo. Quando o que era para ser diálogo da boca vira monólogo do cérebro, as palavras viram pensamento perdido para sempre.